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Type de textesource
TitreDa pintura antiga
AuteursHollanda, Francisco de
Date de rédaction1548
Date de publication originale
Titre traduit
Auteurs de la traduction
Date de traduction
Date d'édition moderne ou de réédition1984
Editeur moderneGonzãlez Garcia, Angel
Date de reprint

, p. 337

Não é cousa facil de dizer quaes das obras d’Apelles fossem mais nobres que elle tirava ao natural ; de maneira que os que d’isso entendiam, julgavam nas suas feguras as compreissões e os annos que aquellas pessoas podiam viver, ou que já viveram. E pintava os cavallos de maneira com que aos vivos fazia rinchar.

Dans :Apelle, le Cheval(Lien)

, p. 298

E lemos que Alexandre o Magno pôs grande pena a qualque pintor que o pintasse afora Apelles, porque este só homem stimava que fosse suffeciente de pintar o seu aspeito com aquela severidade e enimo liberal, que não podesse ser visto sem dos gregos ser louvado, e dos barbaros temido e adorado.

Dans :Apelle et Alexandre(Lien)

, p. 336

Foi tão privado de Alexandre o Magno, que mandou por edito que nenhum outro o tirasse polo natural. E muitas, vezes vinha ao seu scritorio, e ali, dispurando Alexandre algumas vezes do que elle alcançava sobre a pintura, Apelles com aprazivel maneira lhe dezia que se callasse Sua Alteza, porque os moços que moiam as colores zombavam do que elle dezia. Tantao foi a autoridade que Apelles pintor teve com Alexandre, rey tão apaixonado, e que não soffria nada a ninguém ! E Alexandre muito e honrava sempre (isto são palavras de Plinio).

Dans :Apelle et Alexandre(Lien)

, p. 336

E esta tenho eu por grande cousa (o que por ventura aldum de nós não fezera) que tendo Alexandre uma moça fremosa chamada Campaspe, e porque muito a amava, mostrou-a despida a Apelles para que lha pintasse : e conhecendo que tambem Apelles d’ella se namorára, lhe fez d’ella dom, grandeza certo de grande animo e mayor que o seu imperio. Nem foi por este feito menor Alexandre que por alguma sua vitoria, nem sómente fez uma nova mercê e grande áquelle mestre que tanto stimava, mas ainda lhe deu a sua propria affeiçao e gosto ; tem teve resgoardo áquella que elle amava, que ouvesse de deixar um Alexandre, emperador do mundo todo, por um mestre de pintura.

Dans :Apelle et Campaspe(Lien)

, p. 306

[[7:voir le reste dans Apelle nimia diligentia]] Mas diz Plutarcho em um livro De pueris educandis que um fraco pintor mostrou a Apelles o que fazia, dizendo-lhe : —“esta pintura é de minha mão feita ainda agora” — ao qual Apelles respondeu : — “inda que mo não dixeras, conheço ser da tua mão e ser feita de pressa; e spanto-me como não fazes d’estas muitas cada dia.”

Dans :Apelle et le peintre trop rapide(Lien)

, p. 305

Mas isto quero agora saber do senhor Michael Angelo, para ver se concerta com o meu parecer, e é que me diga qual é melhor : se fazer depressa qualquer obra, se de vagar ?

E respondeu elle :

— Eu vos direi : fazer com grande ligeireza e destreza qualquer cousa é muito proveitoso e bom ; e dom é recebido do imortal Deos que aquilo que outro stá pintando em muitos dias, se faça em poucas horas ; que se assi não fôra, não trabalhara tanto Pausia Sicyonio por num dia pintar a perfeiçao de um menino em uma tavoa. Assi que o que, pintando depressa, não deixa por isso de pintar tão bem como o que pinta vagarosamente, merece por isso muito mór louvor. Mas se elle com a ligeireza da mão trespassa alguns lemites que não são licitos na arte trepassar, devia antes de pintar maes vagarosamente e studadamente ; que não tem licença o excellente e valente home a se deixar ir enganando do gosto da sua presteza, quando se ella nalguma parte se squece ou descuida do grande carrego da perfeição, que é a que sempre se ha de buscar. Onde não vem a ser vicioso fazer um pouco de vagar, ou ainda, se comprir, muito, nem despender grande tempo e cuidado nas obras, se para maior perfeição se faz ; mas sómente o não saber é defeito.

E quero-vos dizer, Francisco d’Ollanda, um grandissimo primor nesta nossa sciencia, o qual por ventura vós não inoraes, o quam primor cuido que terês por summo, este é que o por que se mais ha de trabalhar e suar nas obras da pintura é, com grande somma de trabalho e de studo, fazer a cousa de maneira que pareça, depois de mui trabalhada, que foi feita quasi depressa e quasi sem nenhum trabalho, e mui levemente, não sendo assi. E este é mui excelente aviso e primor. E as vezes acontece ficar alguma cousa com pouco trabalho feita da maneira que digo, mas mui poucas vezes ; e o mais é fazê-lo a poder de trabalho, e parecer feito mui levemente.

Mas diz Plutarcho em um livro De pueris educandis que um fraco pintor mostrou a Apelles o que fazia, dizendo-lhe : —“esta pintura é de minha mão feita ainda agora” — ao qual Apelles respondeu : — “inda que mo não dixeras, conheço ser da tua mão e ser feita de pressa; e spanto-me como não fazes d’estas muitas cada dia.”

Dans :Apelle et la nimia diligentia(Lien)

, p. 338

Ma tenha na mente quem isto ler que todas estas obras e outras muitas, que não digo, pintava elle solamente com quatro colores.

Dans :Apelle et la tétrachromie(Lien)

, p. 338

O Divo Augusto teve da sua mão aquella tavoa de Venus, a qual sahia do mar, chamada Anadiomene, a qual obra foi tão louvada em versos gregos, que ficou vencida ; mas todavia, ilustrada por fama, não se achou nunca quam acabasse aquella imagem na parte de baxo ; mas a tal perda veo em mais gloria do que a fez.

Dans :Apelle, Vénus anadyomène (Lien)

, p. 183

Le divin Auguste possédait, de sa main, ce tableau de Vénus sortant de la mer et appelée Anadyomène, œuvre tant vantée par les poètes grecs qu’elle fut surpassée, encore que glorifiée, par sa propre réputation. Il ne se trouva personne pour oser peindre la partie inférieure de ce tableau qu’Apelle avait laissée inachevée ; circonstance que je considère comme des plus glorieuses pour l’auteur.[[6:Hollanda confond les deux tableaux évoqués par Pline.]]

, p. 338

Aristide Thebano foi no tempo de Apelles. Este foi o primeiro que pintou o animo do homem e exprimio todos os sentidos, os quaes os gregos chamam Ethe, convém a saber : costumes. Era um pouco mais duro nas colores que Apelles. A sua pintura foi um minino, o qual na destruição d’uma cidade s’apegava na mama de sua mãe, que estava morrendo d’uma ferida ; e conhece-se naquella pintura como a mãe atenta e se teme que o filho, morto já o leite, não mame sangue em seu lugar. Esta pintura levou Alexandre o Magno a Pella, sua patria. […] Entre muitas outras obras pintou um doente, louvado sem fim.

Dans :Aristide de Thèbes : la mère mourante, le malade(Lien)

, p. 334

Screve elle : que Candaule rey de Lydia e o ultimo dos Heraclios, o qual foi chamado Mersilio, comprou uma tavoa em que stava pintada a batalha dos magnates por outro tanto ouro, quanto pesava o retavollo ; e isto er aperto da idade de Romulo e Remo.

Dans :Bularcos vend ses tableaux leur poids d’or(Lien)

, Quatre dialogues sur la peinture, p. 177

Pline rapporte que Candaule, roi de Lydie et le dernier des Héraclides, lequel fut nommé Myrsilius, acheta un tableau où était peinte la bataille des Magnésiens pour un poids d’or égal à celui de ce tableau. Cela se passait vers l’époque de Romulus et Rémus.

(Terceiro Dialogo), p. 292-295

— Ora senhor Micael (dixe foão Çapata, Spanhol) de uma duvida me tirai, que não posso ben entender em a arte da pintura : porque se costuma ás vezes pintar, como se vê em muitas partes d’essa citade, mil monstros e alimarias, d’ellas com rostro de molheres e com pernas e com rabos de peixes, e outras com braços de tigres e azas, outras com rostros de homens, pintando finalmente aquilo de que se mais deleita o pintor e que nunca se no mundo viu ?

— Sou contente (dixe Micael) de vos dizer porque se costuma a pintar aquilo que se nunca non mundo viu, e quanta razão tem tamanha licença, e como é mui verdadeira, porque alguns que o mal entendem, costumam dizer que Oratio, poeta lyrico, screveu aquelle verso em vitupério dos pintores :

Pictoribus atque poetis

Quidlibet audendi semper fuit aequa potestas :

Scimus et hanc veniam petimusque damusque vicissim.

porque tal verso nada enjuria os pintores, antes os louva e favorece, pois que diz que os poetas e pintores teem poder para ousarem, digo ousarem o que lhes aprouver. E este vêr bem e este poder sempre o teveram ; que quandoquer que algum grande pintor (o que mui poucas vezes acontece) faz alguma obra que parece falsa e mentirosa, aquella tal falsidade é mui verdadeira. E se ali fazesse mais verddade, seria mintira. Que elle não fará já cousa que não possa ser, naquillo que ella é ; nem fará uma mão de homem com dez dedos, nem pintará num cavallo as orelhas d’um touro nem a anca de camello ; nem pintará a mão do elefante coma quelles sentimentos que tem a do cavallo ; nem em o braço dum minino, nem na face, porá sentidos de velho ; nem uma orelha, nem um olho por a grossura d’um meo dedo fora do seu lugar ; nem sómente uma escondida vea num braço lhe é concedido lançar por onde quiser, que estas taes cousas são mui falsas. Mas se elle, por guardar o decoro melhor ao lugar e ao tempo, mudar algum dos membros (na obra gruttesca, que sem isso seria mui sem graça o falsa) ou parte de alguma cousa noutro genero, como a um griffo ou veado mudálo do meo para baxo em golfinho, ou d’ali para cima em fegura do que lhe bem estever, pondo azas no lugar dos braços, e cortandolhe os braços se as azas steverem melhores : aquelle tal membro que elle muda, se for de lião ou de cavallo ou de ave, será perfeitissimo como d’aquelle tal genero que elle é. E isto, inda que pareça falso, não se pode chamar senão bem inventado e monstruoso. E melhor se decora a razão quando se mete na pintura alguma monstruosidade (para a variação e relaxamento dos sentidos e cuidado dos olhos mortaes, que ás vezes desenjam de ver aquilo que nunca viram, nem lhes parece que pode ser) mais que não a costumada fegura (posto que mui admirabil) dos homens, nem das alimarias. E d’aqui tomou licença o insaciabil desejo humano a lhe de avorrecer alguma vez mais um edeficio com suas columnas e janellas e portas que outro fingido de falso grutesco, que as colunas tem feitas de crianças que saem por gomos de flores, com os arquitraves e fastigios de ramos de murta, e as portadas de canas e d’outras cousas, que muito parece impossibeis e fora de razão, o que tudo até mui grande, se é feito de quem o entende.

Dans :Grotesques(Lien)

, Quarto Dialogo, p. 335

Pamfilo, pintor de Macedonia, foi o primeiro pintor que foi erudito em toda doutrina, principalmente na arismetica e geometria, sem a qual dezia que nenhum podia ser mestre. Não insinou a nenhum or menos de um talento, que são seiscentos cruzados, isto em tempo de X annos. E por autoridade d’este pintor se fez constituição primeiro em Scicione, cidade, e depois por toda Grecia que os moços fidalgos aprendessem a debuxar ; e que a arte da pintura fosse recebida no primeiro grao das artes liberaes. E sempre foi honrada de maneira que todos os fidalgos a exercitavam, depois sómente os honrados, com perpetuo edito que não s ensinasse aos servos ; polo que nesta arte se não obra de nenhum servo.

Dans :Pamphile et la peinture comme art libéral(Lien)

, Quatre dialogues sur la peinture, p. 179

Pamphilus de Macédoine fut le premier peintre instruit en toutes les sciences, principalement en arithmétique et en géométrie, sans lesquelles nul, disait-il, ne peut prétendre à la maîtrise. Son enseignement ne durait pas moins de dix années, et il ne recevait pas d’élève à moins d’un talent, qui valait six cents cruzades. C’est à son instigation qu’il fut établi, à Sycione d’abord, et plus tard dans la Grèce entière, que tous les jeunes nobles apprendraient à dessiner et que la peinture serait admise au premier rang des arts libéraux. Et elle fut toujours honorée de telle manière que seuls les gentilshommes la pratiquèrent d’abord, et plus tard les citoyens principaux, mais qu’un édit perpétuel interdisait de l’enseigner aux esclaves. De sorte qu’il ne se trouve aucune œuvre de peinture faite de la main d’un esclave.

, p. 341

Amou sua manceva Glicera, sua cidadã, inventora de fazer grinaldas ; e pintou aquella, assentada, tão graciosamente, fazendo una grinalda, dita Stephanopolis, que o terlado d’esta tavoa comprou em Athenas L. Lucolo Romano por dous talentos, que são mil e duzentos cruzados.

Dans :Pausias et la bouquetière Glycère(Lien)

, p. 188

Il aima sa concitoyenne Glycère, qui avait inventé l’art de tresser les fleurs en guirlandes, et la peignit assise, faisant une de ces guirlandes qui lui valurent le surnom de Stéphanopolis, avec tant de grâce que le romain L. Lucullus acheta à Athènes une copie de ce tableau au prix de deux talents, qui valaient mille deux cents cruzades.

(Terceiro Dialogo ), p. 305

Eu vos direi : fazer com grande ligeireza e destreza qualquer cousa é muito proveitoso e bom ; e dom é recebido do imortal Deos que aquilo que outro stá pintando em muitos dias, se faça em poucas horas ; que se assi não fôra, não trabalhara tanto Pausia Sicyonio por num dia pintar a perfeiçao de um menino em uma tavoa.

Dans :Pausias, L’Hémérésios(Lien)

, 3e dialogue, p. 130

Il répondit — Je vais vous le dire. Il est très bon et très utile de faire avec rapidité et dextérité toute chose. C’est un don dispensé par Dieu que de peindre en quelques heures ce qu’un autre met plusieurs jours à peindre. S’il en était autrement, Pausias de Sycione n’eût pas tant travaillé pour peindre à la perfection, en un seul jour, un enfant en un tableau.

(Terceiro Dialogo), p. 297

E assim o que pintar (como dezia um livro) uma lebre, que tenha necessidade, para ser desconhecida do cão que a seguia, de letras que o declarassem, este tal, pintando cousa tão pouco mintirosa, se pode dizer que pinta uma grande falsidade, e mais dificel de achar entre as perfeitas obras da natureza que uma molher fremosa com rabo de peixe e azas.

Dans :Peintres archaïques : « ceci est un bœuf »(Lien)

(Quarto Dialogo), p. 341

Houve um Pereico pintor para ser proposto a poucos e que não sei se acinte se danou porque, seguindo cousas humildes, ganhou grande gloria naquella humildade porque pintava nas camaras os vasos e as bacias dos barbeiros e dos sapateiros, os sapatos e botas, d’arte que provocavam a quem entrava a lançar a mão e despendurar aquellas cousas. Pintava alimarias e aves e hervas e outras meudezas, e por isto foi chamado Rhyparographo. E não sabia pintar figuras, mas este d’estas cousas poucas se fazia pagar melhor que outros muitos que faziam móres obras.

Dans :Piraicos et la rhyparographie(Lien)

(Quarto Dialogo), p. 339

No mesmo tempo foi Protogenes, o qual foi muito prove, pola primeira pola muita suma perfeição que punha na arte, e por isso não ganhava muito. Costumava de comer cousas mui delicadas e temperadas para lhe não engrossarem o engenho. Desprazia-lhe esta arte, porém não lhe podia dar aquella imperfeição e desmancho que elle desejava de fazer, de maneira que depois de mui enfadado, lhe arremessou a esponja com que as colores alimpava ; e acertou de dar na boca do cão, e fazer o que elle queria em vez de o desmanchar. Mas como pintarão agora os modernos tão bem como aquelles por quem a mesma fortuna pintava ? O mesmo aconteceo ao outro, que queria pintar o cavallo escumando.

Dans :Protogène, L’Ialysos (la bave du chien faite par hasard)(Lien)

(Quarto Dialogo), p. 334

E pintou um lutador, de que ficou tão satisfeito, que lhe screveu um verso famoso que dizia : « que mais asinha lhe podia alguem haver enveja, que imital-o ».

Dans :Zeuxis, l’Athlète(Lien)

, Quatre dialogues sur la peinture, p. 177-178

Zeuxis fut tellement satisfait d’un lutteur qu’il avait peint, qu’il écrivit sur ce tableau un vers resté célèbre, disant « qu’il était plus aisé de l’envier que de l’imiter ».

(Quarto Dialogo), p. 334-335

Este foi o que pintou um minino memorado, que levava um cesto d’uvas na cabeça, tão naturales, que as aves desciam a ellas ; mas elle desdenhoso o sofria mal, dizendo que se o minimo fora melhor pintado que as uvas, que os passaros houveram medo de lhe não picar nas uvas.

Dans :Zeuxis et Parrhasios : les raisins et le rideau(Lien)

, p. 334

E querendo pintar ao povo agrigentino uma tavoa de Venus, pedio que lhe mostrasse mas moças d’aquella terra todas nuas, para fazer aquella obra; e assi lhe foram mostradas; de todas as quaes, cinco escolheu para poder na pintura exprimir aquellas partes que em cada uma fossem mais excellentes e proporcionadas.

Dans :Zeuxis, Hélène et les cinq vierges de Crotone(Lien)

, p. 178

Ce même Zeuxis, voulant peindre pour le peuple d’Agrigente la figure de Vénus, demanda, pour faire cette oeuvre, qu’on lui montrât toutes nues les jeunes filles de ce pays. On les lui montra, en effet, et il en choisit cinq pour pouvoir reproduire en sa peinture les parties les plus parfaites et les mieux proportionnées que chacun d’elles avait en son corps.

(Terceiro Dialogo), p. 291

Os antiguos pintores não me parece que foram d’estas vossas pagas e avaliações spanholas contentes; neme u certo cuido que o são, pois que vemos aver alguns tão manificos e liberaes que, sabendo que em sua patria não havia dinheiro que bastasse a pagar suas cousas, as davam liberalmente de graça, tendo despendido na tal obra tempo, e trabalho do spirto, e fazenda. Assi como forão Zeusi Eracleote e Polignoto Thasio, e outros. E outros ouve de animo mais empaciente que gastavam e quebravam as obras que tinham como tanto trabalho e studo como um pintor que, mandando-lhe Cesar fazer uma tavoa de pintura, e pedindo-lhe por ella tanta somma de dinheiro que o não queria dar Cesar (por ventura por fazer melhor o seu officio) e filhos ao redor, chorando tamanha perda. Mas Cesar o enleou então d’aquella maneira que a um Cesar se convinha, e lhe deu dobrada paga do que lhes antes pedia, dizendo-lhe que era doudo, se sperava de vencer a Cesar.

Dans :Zeuxis et la richesse(Lien)

(Quarto Dialogo), p. 333

Zeusi Eracleote, pintor egregio, ajuntou muita riqueza pola pintura, e por pompa d’aquella em Olimpia com letras d’ouro pôs o seu nome ; e depois começou a dar de graça as suas obras, porque julgava que eram de tanta valia que se não podessem comprar com conveniente preço. Assi que deu Alcmena, pintada, aos Agrigentinos e a fegura d’um satyro, chamado Pan entre os d’Arcadia.

Dans :Zeuxis et la richesse(Lien)